sábado, 4 de abril de 2009

Pois então...

... desculpa a ausência, mais é porque ando em uma fase de incertezas. Estas que se intrometem cada vez mais na minha pequena rotina. (...)
Mais quer saber, hoje me bateu uma saudade desse cantinho... e à vontade de repassar mais um textinho !!!

BJãoo


“Não conheço a autêntica modéstia:’não sei’. Todos professam conhecimento sobre tudo, opinam sobre qualquer coisa, exercem uma rede de certezas que me deixa entontecido. Parece que virou crime dizer ‘não sei'. Se o cara fala isso no emprego, logo será encaminhado ao departamento pessoal e fichado no arquivo morto. Se ele diz para a esposa ou namorada, sugere que andou aprontando. Basta chegar em casa tarde da noite e a mínima indefinição transforma-se em suspeita de infidelidade. A regra é falar sem parar, mesmo quando o assunto não começou. Diálogos epilépticos, pulando freneticamente de temas, sem fim possível. Ou é uma época prodigiosa de gênios ou a maioria das pessoas está mentindo.
Houve um tempo em que se queria ser Napo-leão no hospício e Pelé, Martha Rocha, Einstein e Fellini na vida. Hoje o desejo secreto de cada um é ser Google. As conversas giram em torno de referências e não de conteúdos. Encontra-se a informação, mas não se desenvolve o raciocínio para chegar até ela. O mais importante na matemática é o cálculo, nunca o resultado final. Fica-se atualmente satisfeito com o resultado e se envaidece de dizê-lo com rapidez, na ponta da língua. A velocidade tornou-se o objetivo primordial. A busca se encerra no próprio ato final antes de ter realmente começado. O que adianta uma herança que não é vivida?
Com a internet, orkut e céleres estruturas de informação, apesar de tantas virtudes comunicativas e de convivência que geraram, criou-se uma geração de palpiteiros, mais do que formadores de opinião. A vivência foi substituída pela vidência. Pior que enganar os outros é se enganar. Na verdade, dura verdade, a cultura não se adquire sem esforço, inquietações, ensaios e exercícios, vacilos e resistência. A memória não se dá bem com facilidades. A afetividade se desenvolve na dúvida, na absorção amadurada do raciocínio. Inteligência é também a humildade de se calar e de se retirar para estudar mais, ao contrário do que vem sendo alardeado aos quatro cantos do cérebro: de falar a todo momento para mostrar erudição. Ninguém mais leva tema para casa. Até as crianças estão ansiosas demais para escutar histórias e repetem ‘eu sei’ no início delas. Não é um sintoma da pressa essa conversa fiada sem a devida contrapartida da lentidão de ouvir e aprender? A necessidade de aceitação social não estaria matando a honestidade da solidão?
Acredito que é o momento de preservar a ignorância, de instaurar uma ‘Renascença às avessas’. Se a Renascença valorizou o homem completo, o Leonardo da Vinci, a multiplicidade dos talentos em um único indivíduo (pintor, inventor, fabulista, cientista, poeta, pensador), deve-se entusiasmar agora o ‘homem incompleto’, insuficiente, que admite desconhecer temas e assuntos para não atrofiar sua curiosidade. Sem curiosidade, não há nem motivo para estar aqui lendo a Super ou este artigo.
Um teólogo das antigas, Nicolau de Cusa (1401-1464), elogiado por Giordano Bruno, escreveu um livro chamado Douta Ignorância, em que recomenda a conscientização do que não se aprendeu para saber mais. Quem não sabe vai atrás. Quem diz que sabe apenas se conforma em dizer que sabe. A sinceridade é a melhor forma de não sofrer para depois explicar o que o Google não listou. Viver já é uma pós-graduação e não admite fingimentos porque a vida não dá trégua para a imaginação ou fornece instruções de comissário de bordo. Exige o mais difícil sempre. Antes de um beijo, de um abraço, de uma despedida, não se recebe pausa para pensar o que fazer e escrever rascunhos. Não há tempo para raciocinar nem existe curso preparatório para viver — vive-se de cara.” Fabrício Carpinejar

Um comentário:

Unknown disse...

Bom dia e bom fim de semana.
Não deixa de ser uma crítica à crítica.
Na verdade o homem sábio não se julga sábio, pelo contrário sente cada dia mais desejo de saber e conhecer como algo natural.
Hoje temos maior acesso às coisas sem se perder tanto tempo nas bibliotecas. Basta um clik no nosso computador.
Os temas de conversa são muitas vezes aquilo que deixamos acontecer.
Se tivermos preocupados com a educação e a formação dos nossos filhos certamente levaremos para esse campo as nossas conversas e nunca nos deixaremos ir por temas de telenovela.
O tema é demasiado extenso e parece
que não ficará bem querer dizer mais do que o necessário para entender que cada um terá a sua própria opinião sendo necessário ouvi-la e .... se for boa aperfeiçoa-la ... caso contrário é melhor esquecer.
....../....