domingo, 28 de dezembro de 2008

?

"Quem você pensa que é?" - perguntou pra mim de queixo em pé...
Sou forte,
fraca,
generosa,
egoísta,
angustiada,
perigosa,
infantil,
aflita,
serena,
inconstante,
persistente,
sensata e corajosa,
como é toda mulher,
poderia ter respondido,
mas não lhe dei essa colher.
- Martha Medeiros -

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Conquista ou realização?

Não sei se devo conquistar ou realizar o tão falado auto-conhecimento.
Porém hoje escolhi jogar-me.
Descomplicar.

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SALTO MORAL

Sondar a possibilidade do salto
e a profundidade do
abismo.
Formular o desenho preciso.
Vôo e queda, a mesma dimensão
e
altura.
Vôo e queda recortam no ar
a mesma figura.

Saltar de dentro
de si mesmo
Como quem pula o muro da infância,
A cerca que esconde os
pomares
do mundo e limita o corpo
e seu agreste crescimento. E
restringe
o homem e seu poder.

Saltar para o desconhecido
sem redes
sob o corpo.

O salto moral

Diante de mil trapézios oscilantes
e
luzes e o pavor dilacerante
da platéia. A comovente platéia
da
autopiedade

Saltar
para a verdade.
- Celina Ferreira -

“Não há malabarismos óticos dentro dos versos e muito menos o espetáculo de palavras com picadeiro. Mas esta estabilidade também procede do temperamento da autora, e em Celina Ferreira, já pela própria temática, já pelo seu modo de ser, há razão para esta cadência romântica do verso.” Affonso Romano de Sant´Anna.

sábado, 15 de novembro de 2008

Sorriso



"Um sorriso é uma linha curva que faz com que tudo se endireite."

http://www.opus4.com.br/benedito/citacao/28_sorri.htm

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

"Um Certo Alguém"

Sentimento não deve ser escondido nem “jogado aos sete ventos”. Acredito que deve ter um pouco de exclusividade e subjetividade, pois estes, quando bem praticados, demonstram ao destinatário que não se é “apenas mais um” !!

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Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Eu acho tão bonito isso
De ser abstrato baby
A beleza é mesmo tão fugaz

É uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber


Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
E eu vou sobreviver...
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber
- Apenas Mais Uma De Amor - Composição: Lulu Santos e Nelson Motta -

domingo, 9 de novembro de 2008

(...)

As coisas de um tempo pra cá
não param de complicar.
E a única coisa que eu gostaria de fazer era sumir!
Sumir!

Para um lugar onde não houvesse perguntas
que perguntas não tivessem respostas
e respostas não precisariam ser explicadas!

Se ser é inevitável, assim como é inevitável descontrolar-se, então me descontrolo!

Obs: Aviso logo que devido a falta de criatividade (espero que passageira) "montei" este texto com fragmentos de blogs alheiros. Queria poder revelar os autores, mais acabei perdendo-os no meio dos “Ctrl C”(s) e “Ctrl V”(s). Rever o histórico de hoje seria uma solução, mais informo também que a preguiça e a vontade de dormir - para que por fim este dia se finalize... sem final feliz – está prevalecendo to night, Good night !!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Significado

No poema
e nas nuvens,
cada qual descobre
o que deseja ver.
- Helena Kolody -

"Sem dúvida, acredita Helena Kolody no poder da palavra, e o poeta pode ser considerado o "escolhido" para fazer dela um instrumento de transformação do mundo. A responsabilidade é enorme e alguns artistas da palavra conseguem levá-la a contento e vão gravando pelo tempo suas idéias que geram novas idéias e assim sucessivamente num trabalho longo, árduo e necessário."

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Pensar um pouquinho faz tão bem !!

Li domingo uma entrevista feita com o José Saramago, no O Globo – mais precisamente no caderno prosa e verso, e deparei-me com estas seguintes frases:
“Sou realmente um cético que precisa sempre ver o que se oculta por trás da aparência das coisas. Das coisas, das palavras e de quem as diz”.
“vivemos numa permanente comédia de enganos que é preciso desmontar continuamente”
A primeira passou estranhamente em meus pensamentos. Mais ao me deparar com a sua ‘conclusão’(na segunda) percebi que talvez Saramago esteja mesmo certo. Não devemos acreditar em tudo que ouvimos, mais acho que duvidar demais também não é a solução, pois como dizem: devemos escutar os dois lado. Então o que devemos fazer? Acho que refletir ajuda para a formação da nossa opinião, porque é esta que deve e é montada continuamente.

sábado, 1 de novembro de 2008

Amor é síntese

Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente,
Todo cheio de marcas que a vida deixou.
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço.
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.
- Mario de Andrade -

Obs: Ao utilizar a palavra “perfeição”, em sua última estrofe, Mario de Andrade me fez pesquisar seu significado. Assim, através do wikipédia, encontrei o seguinte: “do latim perfectione, caracteriza um ser ou objeto ideal que reúne todas as qualidades e não tem nenhum defeito. Designa uma circunstância que não possa ser melhorada ainda mais.”
“O conceito moderno de pefeição se origina do movimento idealista do século XVIII, e está estreitamente ligado à noção de progresso. Em Kant e seus antecessores, Christian Wolff e Alexander Gottlieb Baumgarten, perfeição é uma noção de ontologia: completude como sendo uma reunião de todas as disposições sujeitas a uma unidade harmoniosa, ou ordem. O perfeito é um 'completo', um manancial de ações potenciais.
Por outro lado, a perfeição é uma idéia, uma condição que não é alcançada, mas deve necessariamente ser almejada - esta é a ética do homem.”

Curiosidade: “Síntese” - método de demonstração que parte do símples para o composto, das causas para os efeitos, dos elementos para o todo, do princípio para as consequências; (quím.) operação que consiste em reunir os corpos simples para formar os compostos, ou os compostos para formar o outros de composição ainda mais complexa. (Fonte: Dicionáro Brasileiro Da Língua Portuguesa – O Globo)

sábado, 18 de outubro de 2008

O Menor amor do Mundo

"Muito da nossa surpresa diante do mundo está nas grandes descobertas contidas nas pequenas coisas ou formatos. É o projeto de árvore que está no broto. É o caso particular que traduz a lógica de um mundo inteiro. Ou o inesperado que só não se esperava porque não se olhou com a devida atenção.
É sobre esses átomos amorosos que gostaria de falar aqui, átomos como os poemas curtos e a etimologia.
Falar em poema curto é uma liberalidade. A rigor, não há poemas longos ou curtos. A duração deles obedece a uma dupla característica: ter fruição e economia. Aquilo que Octavio Paz entende por “máxima variedade na unidade”. Cada leitor interpreta o verso à sua maneira, o que um lê, outro não enxerga, pois um poema é um manancial de possibilidades. Ao mesmo tempo, o verso é enxuto, diz o máximo com o mínimo, pois não haveria melhor modo de dizê-lo.
(...)
Tendo, no entanto, a acreditar que a menor poesia brasileira seja exatamente sobre o amor. É aquela que Oswald de Andrade publicou no fim dos anos 20, com o título “Amor” seguido por uma palavra-poema, “Humor”.
Amor
Humor
(...)
Mesmo que não seja o poema mais curto, é de todo modo um achado esse encontro a sós entre amor e humor. Não só porque rimam. Têm muito em comum. Ambos só podem ser feitos acompanhados.
(...)
O amor a dois talvez não esteja num ou noutro campo, não seja alado nem alante, eros ou ptérôs, mas viva na encruzilhada, na intersecção. Luiz Jean Lauand me fez lembrar outro dia do poema curto de Nilson Machado:
Amar, verbo lenitivo
Usa-se na voz ativa
Sujeito passivo
Amar não tem sentido só passivo, muito menos ativo, ocupa o meio-campo, conjuga-se em voz média. Dizer que amo alguém é dizer o quanto me amo também. É como quem diz “eu me confesso”: no momento mesmo em que me revelo, a revelação é feita a mim também. “Não se consuma uma confissão a mim senão pela confissão ao outro”, diz Mário Bruno Sproviero. No momento em que falo a alguém, o que falo me afeta. Sou sujeito da ação e seu alvo. Sou voz média. O mundo dos deuses e dos homens numa só expressão. Amor, humor.
(...)
Talvez por isso todo mundo fale de amor com propriedade, mas ninguém sabe dizer direito o que é. Até que chega uma certa hora, o olho no olho, o peito aberto como ferida, o coração na ponta da língua. É então que 20 séculos de dúvida se dissipam, nenhuma outra palavra se revela mais precisa, mais exata. E a única coisa cristalina e inconfundível é aquilo que você só pode dizer dessa maneira e de nenhuma outra mais, esse verbo intransitivo, que é a única verdade daquele momento, a sua mais sincera verdade: “eu amo”."
- Luiz Costa Pereira Junior -

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Canção de Homens e Mulheres Lamentáveis

Esta noite... esta chuva... estas reticências. Sei lá.

Quem seria capaz de abrir o peito e mostrar a ferida? De dizer o nome? De lembrar, sequer lembrar, o rosto?

Quem seria capaz de contar a história? De chamar o maior amigo, ou melhor, o inimigo, e dizer:

— Estou me sentindo assim, assim, assim...

A humanidade está necessitando, urgentemente, de afeto e milagre. Mas não sabe onde estão as mãos, nem os deuses. E, quando souber, vai achar que as mãos e os deuses são de mentira. Os olhos de todos estarão cheios de medo, os olhos das jovens raparigas, os olhos, os braços, o ventre e as pernas das jovens raparigas, receosos de pagar com os quefazeres do sexo.

Nesta noite, com esta chuva, as jovens raparigas não são importantes. Apenas uma tem importância. Mas quem seria de todo livre e descuidado, a ponto de dizer o seu nome? De pensar o seu nome? Você diria em público o nome da Amada? E suportaria ouvi-lo? Não, não; o nome dela, em sua boca ou na dos outros, é tão proibido como sua nudez (dela). Não há diferença.

E por que você não se transforma no homem banal, que se encharca de álcool, para apregoar a desdita? Seria mais fácil. Talvez alguém lhe chamasse de porco e você revidasse com um soco no rosto, um só rosto, de todo o Gênero Humano. Viria a polícia, que simplifica tudo, generalizando. E tudo se transformaria em notícia: "Preso o alcoólatra, quando injuriava e agredia a Família Brasileira, na pessoa de um sócio do Country".

Há poucos minutos, em meu quarto, na mais completa escuridão, a carência era tanta que tive de escolher entre morrer e escrever estas coisas. Qualquer das escolhas seria desprezível. Preferi esta (escrever), uma opção igualmente piegas, igualmente pífia e sentimental, menos espalhafatosa, porém. A morte, mesmo em combate, é burlesca.

Uma pergunta, que não tem nada a ver com o corpo desta canção. Quem saberia discriminar o ódio do amor? Ninguém. Os psicologistas e analistas têm perdido um tempo enorme.

Ontem à noite, voltando para casa, senti-me espectador de mim mesmo. E confesso que, pela primeira vez, não achei a menor graça. Saíra, pela primeira vez, de óculos e o porteiro do edifício me recebeu com esta agradável pergunta:

— Que é que houve? O senhor está mais velho?

Tirei os óculos e, fitando-o, esperei as desculpas. Mas o homem continuou:

— O que é que houve? De ontem para cá, o senhor envelheceu.

Tinha pensado que, sem os óculos...

Não estou escrevendo para ninguém gostar ou, ao menos, entender. Estou escrevendo, simplesmente, e isto me supre: contrabalança, quando nada. Esta noite, esta chuva — e poderia escrever as coisas mais alegres, esta noite. Neruda, coitado, as mais tristes.

Só há uma vantagem na solidão: poder ir ao banheiro com a porta aberta. Mas isto é muito pouco, para quem não tem sequer a coragem de abrir a camisa e mostrar a ferida.
- Antônio Maria -

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O que eu não quero...

Não quero alguém que morra de amor por mim.
Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim.
Nem que eu faça a falta que elas me fazem.
O importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível.
E que esse momento será inesquecível.
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre.
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém.
E poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho.
Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento e não brinque com ele.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe.
Que ele é superior ao ódio e ao rancor,e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar,amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos, talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas.
Que a esperança nunca me pareça um "não“ que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como "sim".
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim,sem ter de me preocupar com terceiros.
Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades , às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim.
E que valeu a pena!!!
- Mário Quintana -

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Precisão

"O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição."

- Clarice Lispector -

domingo, 23 de março de 2008

Assim é a Vida

Quando na fase das espinhas, gostaria de ter nascido com um mapa.
Um mapa de mim mesmo, que a cada passo em minha vida fosse me apontando o terreno seguro e fértil a seguir.
Teria me poupado de muitas dores, muito sofrimento e, também, do aprendizado essencial – assim acreditava na fase da inocência. Queria além desse mapa ter uma caixinha do tempo, que me transpusesse ao passado, onde poderia deixar recados para mim mesmo.
Não existe o mapa, não existe a caixinha.
Tenho acumulado dezenas de cicatrizes em “minhalma” que insistem em não se fechar.
O que interessa aquele sentimento que tive?
O que importam as pessoas cuja amizade não cultivei?
São sementes, são marcas, são degraus que escalei e venci.
Deixei todos pelo caminho. Despojos de guerra de uma batalha que nunca termina.
Se tivesse o mapa, saberia quem encontraria pelo caminho, assim como uma montanha ou ponte que podemos divisar. Não sabemos, mesmo portando o mapa, como é a ponte ou a montanha, mas pelo menos sabemos que estará lá. Também não sabemos o sentimento que teremos ao atravessar a ponte ou ao contemplar a montanha. Talvez queiramos escalá-la, contemplá-la ou simplesmente deixá-la pelo caminho, não importa.
Contornei muitas montanhas, escalei outras, esfolei-me e deixei algumas ao largo.
Não sei se o caminho que percorri foi o certo, o mais longo ou o mais bonito – não tenho condições, ainda, de me avaliar – preciso andar mais.
Não sei o que me espera na próxima curva, no próximo dia, na próxima hora que se dobrará sobre mim, como a vaga de uma onda.
Hoje, amadurecendo ao peso do caminho, respiro com prazer esse mistério e penso em um Deus, grandioso, detentor de todos os mapas e se ele aprecia saber de tudo e viver sem enigmas a desbravar.
Enfrentamos nossas Esfinges todos os dias, e, ou as deciframos ou nos devoram.
Em verdade, à medida que os dias nos atropelam, seguimos colecionando nossas venturas e decepções, desenhando, a próprio punho, o mapa de nossas vidas, sendo cada um uma peça única, portanto rara, que apenas o Senhor de Tudo e de Todas as Coisas pode compreender.
Sem mapa, sem caixinha, mas com muitas surpresas: assim é a vida!
- Jurandir Araguaia -

domingo, 16 de março de 2008

Quase

Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase! É o quase que me incomoda, que me entristece que me mata trazendo tudo o que poderia ter sido e não foi! Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escapam pelos dedos nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca saíram do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me às vezes o que nos leva a escolher uma vida morna. A resposta eu sei de cor, esta estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença do ¨bom dia¨ quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai, talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo o mar não teria ondas, os dias seriam nublados, o nada não ilumina não inspira, não aflige nem acalma apenas amplia o vazio que cada um trás dentro de si. Preferir a derrota prévia à duvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Para os erros há perdão, para os fracassos chance, para os amores impossíveis tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo o fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você, gaste mais horas realizando que sonhando… fazendo que planejando… vivendo que esperando. Porque embora quem quase morreu ainda vive, quem quase vive já morreu.
- Luiz Fernando Veríssimo -

sábado, 15 de março de 2008

Perto do coração selvagem

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo."
CLARICE LISPECTOR

sexta-feira, 14 de março de 2008

O direito ao “foda-se”

Pesquisando na Internet acabei achando esse texto e pelo que me pareceu, não é recente. Não sou de falar palavrão, mais achei sensacional, ou melhor bom pra caralho!! Já tava na hora de alguém dizer alguma coisa em defesa das “caralhadas” portuguesas !!!

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O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas.
Me liberta.
"Não quer sair comigo? Então foda-se!".
Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho. O Sol é quente pra caralho. O universo é antigo pra caralho. Eu gosto de cerveja pra caralho, entende?
No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!" O "Não, não e não!" e tampouco e nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem. O "Nem fodendo!" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.
Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um "é PHD porra nenhuma!" ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e mais recentemente o "prepone" - presidente de porra nenhuma.
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou seu correlato "Pu-ta-que-o-pa-riu!!!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!"? Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!".
Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala?
"Fodeu de vez!".
Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!!!

Esse texto foi creditado a diversos autores, entre eles: Millôr Fernandes, Arnaldo Jabor, Veríssimo e entre outros; porém pelo que me pareceu (consertem me se estiver incorreta), que o verdadeiro foi um cara aqui do rio chamado Pedro Ivo Resende.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque tem curta vista, logo se acostuma a não olhar pra fora. E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar afé correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo de viagem. A comer sanduíches porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite, cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir passado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre guerras, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone, hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios, a ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado da infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar por ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho para ganhar mais dinheiro para ter com que pagar nas filas em que se cobre.

A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável, à contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galos na madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta do pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só o pé e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que as poucos se gasta e que de tanto se acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colassanti

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

sofrimento opcional

Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.

Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias, se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!!A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O Que Há

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

por Álvaro de Campos, que foi um dos heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa.

* Heteronímia -(heteros = diferente; + ónoma = nome) é o estudo dos heterónimos, isto é, estudo de autores fictícios (ou pseudoautores) que possuem personalidade.

sábado, 5 de janeiro de 2008

O anjo mais velho

" ... metade de mim

agora é assim

de um lado a poesia o verbo a saudade

do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim

e o fim é belo incerto... depende de como você vê

o novo, o credo, a fé que você deposita em você e só ..."

Fernando Anitelli - O Teatro Mágico